Professores e técnicos-administrativos do Instituto Federal de Sergipe (IFS), filiados ao Sinasefe Sergipe, além de alunos da instituição, se reuniram em uma videoconferência que analisou os impactos da implantação do ensino remoto emergencial no IFS.
Um ponto em comum aos participantes é a preocupação este formato de ensino. “A comunidade do IFS tem realidades diversas. Temos professores que não dominam equipamentos e tecnologias para gravação de aula, temos alunos que não tem celular, computador ou acesso à internet. Implementar o ensino remoto neste formato vai ser mais excludente ainda”, disse Ana Cecília Campos Barbosa, psicóloga do IFS Campus São Cristóvão, e que foi debatedora.
“Este é um momento delicado, cercado de estresse nas relações familiares, nas relações de trabalho, nas relações sociais, e esta pressão, esta obrigatoriedade do ensino remoto emergencial potencializa tudo isso”, acrescentou Ana Cecília.
“A minuta apresentada pelo IFS traz uma série de pontos críticos. É pontuado que deve vigorar durante a pandemia, mas outro período delicado também vai ser o pós-pandemia. Não sabemos como será, como atuaremos”, disse José Adelmo Menezes de Oliveira, professor do IFS Campus Aracaju e também debatedor. “O documento traz outras incongruências, como hierarquização de disciplinas, desvinculação da teoria e a prática, o que é absurdo, especialmente no ensino técnico e profissionalizante”, complementou.
Outro ponto levantado foi o risco posto à autonomia do professor. “A minuta traz todo detalhamento de como funcionará o controle e a gestão e quase nada sobre a parte pedagógica. Ele centraliza o controle e a gestão e descentraliza a responsabilidade do fazer acontecer com os campi, incluindo o controle da aula”, disse Adelmo.
“O esvaziamento da figura do professor em sala de aula infelizmente já é uma realidade em curso na educação à distância privada. Um pequeno grupo de professores é contratado para gerar o conteúdo de aulas de todo o curso, tanto o conteúdo de mídia, como o de livros e material de apoio impresso. Essas aulas são distribuídas pelos pólos, que passam a ter a figura do mediador, do monitor. Grandes grupos empresariais da educação estão de olho nesta vertente, que é bastante lucrativa e essa ideia está chegando no ensino público”, disse José Correa Neto, professor do IFS São Cristóvão.
Foi consenso que este ensino remoto emergencial é inviável e representará um retrocesso. “Este formato proposto está muito longe de proporcionar equidade no ensino e vai provocar um efeito cascata sem precedentes que irá explodir logo mais à frente. O IFS não está inerte. Ele vem atuando com ações como lives, que promovem o acolhimento, produção e distribuição de sanitizantes, por exemplo. Mas é preciso pensar no pós-pandemia também, pois será preciso repensar a forma de ensino e até de conduta e convivência nos corredores dos campi para evitar infecção e contágio na comunidade do IFS”, disse Regina Célia Bastos de Andrade, professora do IFS Campus Aracaju.
Outros pontos levantados com vistas a esse período de pandemia e pós-pandemia foram levantados por Ana Paula Leite, assistente social do IFS Campus Lagarto: avaliação e aprimoramento. “Algumas atividades remotas aconteceram no IFS e tiveram baixa adesão dos alunos, dentre os motivos, por limitações técnicas. Este seria um momento valioso para o IFS avaliar e aprimorar as atividades remotas. Há necessidade de formação continuada de professores, mediação tecnológica, tanto para professores, como alunos. Antes da pandemia já era difícil dar conta de quem necessitava de atividades domiciliares, será que teremos condições de atender a mais alunos?”, questionou. “Este é o momento de avaliar, repensar e reconstruir, buscar soluções e não uma substituição do calendário letivo”, acrescentou.
“Nós precisamos tentar compreender os desafios que nos apareceram e qual pensar qual o nosso papel para seguirmos em frente. É repensar tudo para seguir a vida, construindo do zero. A gente não pode pisar no freio, mas ir para cima, se reinventar e construir novos caminhos”, disse Lício Valério, professor do IFS Campus Aracaju. “Não basta usar um formato de ensino só para não perder o ano letivo. Essa não pode ser a preocupação. O ensino remoto emergencial proposto é excludente e limitante”, disse Beatriz Casa, aluna do IFS Campus Aracaju.
E propostas não faltaram na videoconferência que durou quase três horas e reuniu mais de 60 participantes. Foram inúmeras propostas, como capacitação de professores, atividades como lives interdisciplinares, entre outras, avaliação do ensino híbrido e a convivência no pós-isolamento e pós-pandemia. Foi tirada uma comissão entre os participantes, composta por técnicos-administrativos, professores, alunos e membros do Sinasefe Sergipe, que, ao fim da videoconferência, já começaram a trabalhar na construção de um documento com todas as avaliações e propostas apresentadas e será entregue à Reitoria do IFS neste dia 26 de maio.
“Foi enriquecedor de diversas formas. Nas avaliações, nas propostas e nesse abraço virtual pela educação. Foi gratificante ver, neste período de isolamento, 60 pessoas juntas, pensando juntas, buscando soluções juntas, num momento de somação pelo próximo, pela educação, pública, gratuita e de qualidade. Espero que a reitoria confirme o caráter democrático previsto nos valores do IFS e considere os pleitos feitos pela comissão formada neste debate”, destacou Antônio Santiago, professor do IFS Campus São Cristóvão e mediador da videoconferência. “Foi extremamente produtivo e valioso. E esta comissão não vai se esgotar na produção desse documento. Continuaremos ativos e teremos outros momentos de avaliação e discussão como este”, disse Guthiêrre Araújo, coordenador do Sinasefe Sergipe.
Clique aqui e confira o documento construído na videoconferência e enviado à reitoria do IFS.